quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crime e Crise de Valores

    Antes que se diga que a juventude de hoje está cada vez mais ligada ao crime, um fato a comentar: Jovens envolvidos com crimes não são notícia recente, obrigado. E também não é exatamente sobre isso que se trata a postagem de hoje. A questão de hoje saiu das manchetes dos últimos dois anos envolvendo jovens. Melhor dizendo, não os jovens marginalizados e sem oportunidades, mas aqueles que tiveram todas as oportunidades na vida e ainda assim acabam  se envolvendo com o crime. O assunto em questão é o fenômeno da Classe Média transviada, para usar um termo com alguma história.
    Novamente antes de começar a tratar do tema, gostaria de expor um ponto interessante. O que acontece quando um jovem pobre, da favela, que não teve oportunidades é preso ou descoberto por um crime? Os jornais noticiam a violência crescente, e associam o crime a isso, isso quando não chamam o referido jovem de "bandido". E quando o jovem em questão não é o marginalizado? Sim, eles noticiam o crime, mas logo em seguida uma "nuvem" de especialistas aparecem apontando a cultura atual como culpada, ou afirmando que o mesmo sofria de problemas mentais ou qualquer outra desculpa em tom científico para desviar a questão. Interessante, não?
    Voltando a esse último exemplo, o que levou esse jovem, que tinha tantas oportunidades a se envolver com o crime? Primeira resposta possível: A "sensualidade" do crime.
    Bem ou mal, o crime é o vilão da nossa sociedade e desde muito tempo há um forte apelo na posição de vilão. Quantas pessoas não se afeiçoaram e torceram pelos vilões dos filmes, novelas e etc que assistiam? Muitas. Por há algo de místico no que é errado, algo sedutor. O vilão é aquele que detém o poder. Os homens querem esse poder e uma arma de fogo acaba sendo praticamente um símbolo fálico, uma representação de sua masculinidade. E as mulheres? Elas se sentem seduzidas por esse poder... Atraídas por um tipo de desejo pelo proibido. Por quê? Por que o proibido é instigante e, como diria Walter Bagehot, "um dos maiores prazeres da vida consiste em fazer o que os outros lhe dizem que você não pode".
    Então apresento agora um segundo motivo possível: Um crise de valores. Como assim? Geralmente, deixando a parte a questão da sedução do crime, quando um jovem mais abastado comete um crime, o faz por possuir os valores errados. Como os jovens que atearam fogo ao Índio Galdino e se justificaram afirmando que acharam que se tratava de um mendigo. Um minuto? Então, para eles, atear fogo em mendigos é uma atitude plausível? Eis aí uma questão de valores errados.
     E essa questão de valores não é somente dos tempos recentes e tampouco exclusividade da sociedade brasileira. As gangues americanas dos anos 1890 eram formadas pro jovens que espancavam as namoradas e achavam que os estrangeiros e imigrantes mereciam ser desprezados, usando da violência para por em prática tais ideais. Todos eles de família muito bem instruídas e com recursos. O que havia de errado com eles? Todos tinham problemas psicológicos, como às vezes os noticiários noticiam crimes com jovens de classe média e alta? Estranho um grupo tão grande de jovens estarem com problemas psicológicos, não acha? Na verde o problema eram os valores errados que eles tinham apreendido.
    E chegamos enfim a uma questão realmente importante no tema de hoje: Que valores nós, jovens, estamos aprendendo? Individualismo, consumismo, desestruturação dos laços familiares, falta de diálogo, uso da violência e vários outros que podem ser apontados como responsáveis por essa criminalidade. Mas não é somente a juventude que está sendo impregnada com esses valores, mas também adultos e, o mais terrível, as crianças de hoje. A sociedade está tomando um rumo auto-destrutivo e, correndo o risco de receber a alcunha de socialista extremista, a culpa disso é do capitalismo. Por quê?
    Os bens são cada vez mais descartáveis hoje em dia e aprendemos que as coisas são extremamente descartáveis. Somos bombardeados com propagandas e incentivados a consumir mais e mais e mais. As relações familiares e o respeito aos mais velhos e mais sábios não têm o mesmo valor que possuíam há algumas décadas. Estamos vidrados em computadores vivendo mundos virtuais e vidas virtuais, frias e impessoais. E antes que achem que eu estou aqui fazendo uma crítica à juventude a que me propus entender, estão errados. Quando digo que "nós" estamos sendo impregnados com tudo isso estou me referindo ao "nós seres humanos", a sociedade como um todo.
    Sem mais gostaria apenas que parassem para pensar nisso. Será que devemos continuar que esses valores errados sejam difundidos? Uma boa quinta-feira a todos e até breve.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, estou te seguindo!
    Se quiser retribuir, fique à vontade!
    Futebol – Paixão e Profissão
    Abraços!

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  2. Eu não julgaria valores errados, quando você apenas citou somente o lado ruim dessa "modernidade". Eu acho que antigamente existia muita hiprocrisia, e hoje com a nova comunicação que vivemos ela está vindo à tona, o que não deixava de existir no passado, nós só tomamos ciência dessa e passamos a criticá-la. Violência, pessoas sendo levadas por maus caminhos... eu acredito numa série de fatores que podem levar a pessoa a isso, inclusive má indole, componetes externos e até falta de vergonha na cara. Acho que a humanidade está, sim, caminhando para um progresso, mas sempre vão existir as laranjas podres da coisa toda.

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  3. Não dá para impor a culpa para um só fator, até por que seria hipocrisia...
    A verdade é que existe uma mudança de valores, como ocorre em todas as gerações. Mas isto não implica diretamente em uma criminalidade aumentada.
    Parabéns pelo post!
    ;D

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  4. a vida está conturbada e o jovem é jogado nela cada vez mais cedo para comandar familias, as vezes sem extrutua nenhuma. Vc viu meu ultimo post sobre menores abandonados??
    Dá uma olhada lá!!

    Seu blog é muito bom, por isso que sigo sempre!!

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  5. Hugo
    Eu não estou dizendo que antigamente não havia nada disso, na verdade tem uma parte do post em que eu digo que isso não é um fator recente. O que eu quis discutir nesse post foi QUAIS são os valores ruins de hoje. Também concordo que estamos evoluindo e melhorando em muita coisa, mas há sempre um lado para o qual toda sociedade involui.

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