Com certeza você já deve ter visto, de uns tempos para cá, várias reportagens, notícias, publicações e etc. falando do "mal" do internetês ou de como essa linguagem comum da internet prejudica o falar dos adolescentes. Muitos gramáticos e estudiosos da língua de uma ala mais puritsta vêm tentando eliminar frases do tipo "E aew blz?" ou "Vc tah afim de tc?". A afirmação deles é de que esse tipo de uso é viciante e poderia contaminar o bom português e atrapalhar o aprendizado na escola.
Mas há algo de errado no reino da Dinamarca.
Antes de tudo, deixe-me fazer aqui um parênteses um tanto nerd para explicar um termo linguístico a vocês, caros interneteiros. Registro é um termo usado na linguística para designar a variedade da língua definida de acordo com seu uso em situações sociais. Não entendeu? Digamos que você vá à praia. Você vai usar uma roupa de banho, certo? Agora, se você vai a uma entrevista de emprego, você nunca usaria roupa de banho, mas roupas mais formais. É a mesma coisa com a língua que falamos. Se estamos em uma conversa com amigos, usamos um tipo de língua diferente do que usamos ao nos dirigir a alguém importante ou ao apresentar uma palestra para um público mais exigente.
Agora, sabendo do que se trata registro, vocês com certeza concordaram comigo que o internetês é um registro do português. Seu lugar social é a internet e seus usuários os interneteiros. Falar que o internetês faz mal à saúde do ensino da língua é a mesma coisa que falar que um registro é nocivo ao português. E eis aí a questão. Por acaso o jeito que você fala com seus amigos destrói o jeito como você fala em situações mais formais? Por acaso o caipirês do Chico Bento atrapalha o leito das revistas do Maurício de Souza a escrever direito? Creio eu que não.
E agora chegamos ao grande ponto dessa questão, e que tem muito a ver com a temática desse blog: Se o internetês é apenas mais um registro linguístico do português, por que toda essa crítica ao internetês? Os puristas da geração guaraná de rolha afirmam que os jovens podem fazer mal uso desse registro e usá-lo em ambientes inadequados. Mas isso é uma grande besteira. Todo falante de uma língua reconhece um registro e seu uso adequado. É um fato espontâneo, que já está programado em nosso cérebros.
E então os puristas vêm argumentar: Então por que há tantos adolescentes usando o internetês em trabalhos escolares? Primeira coisa: Nem há tantos assim, há apenas uma pequena quantidade de adolescentes que realmente fazem isso. Outra coisa: Se eles não fazem o uso do registro certo no uso certo, é por que não apreenderam o registro. Um exemplo na contramão: Até ano passado eu quase não usava o msn. Portanto eu escrevia frases inteiras, sem as abreviações do internetês. Resultado? Eu me enrolava com tantas janelas abertas, demorava muito tempo para escrever o que queria e quando estava em algum chat sempre fazia os comentários quando o assunto já tinha morrido. Mas hoje, depois de tanto contato com o internetês eu já o uso normalmente quando estou no msn. E se vocês repararem, eu não usei o internetês nesse texto, exceto na hora de mostrar os exemplos. Por quê? Por que, eu acho, que o registro aqui exigido é outro.
Então por que há jovens usando o internetês na escola? Porque a educação brasileira é falha. Exatamente por isso. Há uma quantidade de jovens que não tiveram acesso suficiente ao tipo de registro escolar, ou um acesso inadequado, e por isso não aprenderam a usá-lo. E os puristas da educação, em vez de tomarem a culpa para si, a jogam para a internet.
Antes de terminar essa postagem de hoje, eu só gostaria de deixar aqui uma frase de um linguista chamado Sírio Possenti:
"Uma coisa é a grafia; outra, a língua. Não há linguagem nova, só técnicas de abreviação no internetês. As soluções gráficas são até interessantes, pois a grafia cortada é a vogal. A palavra "cabeça", por exemplo, vira "kbça", e não "aea". A primeira forma contém os fonemas indispensáveis ao entendimento."
A vcs, galera, um bom fds. Bjos e ateh a vista.
A crítica ao internetês existe porque os jovens não estão fazendo distinção de onde se deve ou não usar essa linguagem, e acabam usando em tudo o que escrevem... Se ligou?
ResponderExcluirMuito bom seu post, e seu blog, vou seguir!
Aparece no meu:
http://amansim.blogspot.com/
Mas a questão de fazer a distinção ou não não é culpa direta do internetês ou da internet em si, mas da falta de direcionamento ao uso dos registros corretos. É algo que deveria ser trabalhado na escola, mas não é. Os professores se preocupam demais hoje em dia em passar a matéria da gramática que se esquecem que a gramática é ferramenta para usar melhor a língua e não incentivam esse uso adequado. É o que eu vejo na faculdade... Várias pessoas em diversos cursos e que não tem base em português e mal sabem usar seu idioma. E isso não é apenas com os mais jovens...
ResponderExcluirMuito bom , vou seguir
ResponderExcluirsegue o meu ? www.artedoblogueiro.blogspot.com
De fato, muitas pessoas usam incorretamente o internetês e o vicio acaba sendo refletido em areas impróprias. Mas achei muito interessante seu ponto de vista e argumentos. Mas deve convir que assim como as girias que em muito acabaram se vinculando a nossa gramática o internetês corre o risco de embobrecer o idioma. Independente se a culpa é da Educação ou dos Educados.
ResponderExcluirMas aí está uma questão importante: gírias não empobrecem um idioma. Ao contrário, elas expandem o léxico de determinados registros de língua. Elas expandem o vocabulário. A questão é, de novo, o suo adequado delas que deve ser incentivado e orientado desde cedo, não só por professores como por pais também.
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