domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lugar Social e outras alegorias dessa geração

   Antes de tudo, desculpem-me por ter sumido. eu comecei a ficar enrolado com tantas coisas para fazer e depois de um tempo acabei esquecendo a blogosfera. Mas agora decidi voltar para esse universo, é.

   Pergunta importante: o que Lady Gaga, Glee, Percy Jackson, Twilight, Twitter e outros fenômenos da cultura Pop têm em comum? Difícil dizer? É, bem possível que a resposta óbvia seja "estão na moda". Mas eles estão bem mais ligados, em um nível mais profundo. Um nível que envolve grandes clássico da literatura, se você quer saber, muitos deles tendo ficado guardados na memória da sociedade como marcas de suas gerações. O que eu estou querendo dizer com tudo isso? Bem, antes precisamos de uma viagem no tempo.

    Anos 80-90. Os filmes dessa época são bem antológicos em criarem figuras fortes e marcantes da cultura de massa. quem aqui não sabe quem é Indiana Jones ou Darth Vader? Mais marcante ainda é a força que alguns tipos de filmes, principalmente os voltados para os adolescentes dessa época, dão para determinados "grupos". "A Vingança dos Nerds" de 84 e "Patricinhas de Bervely Hills" de 95 são exemplos interessantes dessa característica da cultura pop de então. outros filmes dessa mesma época criaram "nichos" sociais, como os dos fãs desse ou daquele universo de ficção. Resumindo: Estamos na época em que achar uma identidade cultural em um grupo é importante. Você precisa se identificar com ser nerd, ser valentão, ser geek, ser patricinha... Você é parte de um grupo e fora dele você não é nada.
    Então a cultura de massa está impelindo essas segregações sociais? Nada disso. Ela apenas reflete o que está acontecendo no mundo. Filhos de uma geração em que a massa teve de lutar por liberdade ou outros valores, a geração de 80-90 se viciou na idéia do grupo, mas também busca a identidade, criando um meio-termo estranho em que você nem é você e nem o todo.
    Esse fenômeno é mais comum do que muita gente pensa. A mídia e a cultura tendem a "refletir" ou "prever"  a estrutura social de cada geração. Quem não se lembra de "Os Sofrimentos do Jovem Werther" e a onda de suicídios românticos dos anos seguintes. O livro provocou uma onda de suicídios? Não, ele só antecipou o que estava pro vir, ele estava na vanguarda, à frente de sua época.
    Se naquela época eram os livros o grande holofotes a cultura pop, a televisão, a internet e a música, juntos, formam uma grande força cultural una. E, novamente, essa força cultural revela como está nossa sociedade. Voltando aqui ao início do post, o que todos aqueles produtos de mídia têm a ver com essa história? Eles estão refletindo a realidade atual da nossa sociedade humana, uma sociedade que reage ao paradigma das duas décadas anteriores de buscar um Lugar Social. Uma sociedade em que o indivíduo tem de fugir de ser isso ou aquilo. Uma sociedade em que o indivíduo se destaca do grupo.
    Não entendeu? Vamos por partes.
    Em Glee vemos um grupo de adolescentes desajustados que não se encontram em seus lugares sociais. Temos a gordinha que não se encaixa no mundo das gordinhas, temos o jogador de futebol que não se encaixa no mundo dos atletas, temos... Temos N indivíduos que não se encaixam em seus lugares sociais e, juntos, através da música, tentam expressar quem são e lutam para não ficarem presos ao lugar que a sociedade lhes atribuiu. Lady Gaga é o símbolo da inadequação social. Ela não se define por ser X ou Y, mas por ser ela. Não há adequação ou acomodação, há o indivíduo. O mesmo dito de Glee pode ser dito de Percy Jackson ou Crepúsculo, em que os protagonistas estão presos em lugares sociais desajustados e fogem para um mundo em que não precisam se adequar a um padrão, mas podem viver sua individualidade e seu desajuste como características boas e não más. E o Twitter é a versão exponencial desse fenômeno. Os limites quebrados fogem ao espaço do lugar social e invadem o próprio lugar físico. Você não precisa ser famoso para ter seguidores, nem precisa se limitar a falar com quem está perto. Como diria uma certa propaganda de uma operadora de celular, não há mais limites no mundo.

"Viver sem Limites."
    Uma geração impõe que você deve se adequar a um modelo. A geração seguinte te diz que você deve fugir desse modelo. Para o que seremos programados na geração seguinte. Sobre o que serão nossos filmes. Será que nesse jogo polêmico de tensiona e relaxa, a geração de 20 e 30 enfrentará uma forte ditadura social e o individualismo estará em baixa? Difícil prever... Talvez devêssemos ficar de olho nos grandes sucessos de público dos próximos anos se quisermos saber como será o futuro. Grandes mudanças sempre foram e sempre serão profetizadas pela mídia, acredite.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Solidão que nos move

    Antes de começar a tratar do tema dessa postagem, gostaria de me desculpar com os leitores do blog por ficar sem postar desde quinta-feira, mas esse blogueiro que vos escreve esteve bastante ocupado e sem tempo para postar desde esse dia. E como prezo antes a qualidade que a quantidade das postagens, preferi não escrever nada para não desapontá-los.
    Agora, entrando no que me proponho a tratar hoje, eu desenvolvi recentemente uma teoria pessoal. Na verdade duas. A primeira: As pessoas estão cada vez mais se isolando, com medo de interagir com os demais e se tornam mais e mais solitárias. A segunda: Todos têm medo de ficarem sozinhos. São dois fatos que vêm se agravando na juventude atual. Como assim? Bem, é necessário que eu me explique melhor...
    A solidão é uma tendência que vem crescendo a cada geração e é, antes de tudo, motivada pelo medo. Medo do quê? De se envolver. É como se as pessoas tivessem medo de serem magoadas, de terem seus segredos contados ou que sua confiança seja traída. As pessoas têm medo de interagir uns com os outros. E por isso se fecham em suas bolhas de solidão. Motivos para isso? A violência da sociedade é um deles. O que são os condomínios fechados senão bolhas criadas pelo medo de sermos vítimas da violência. E este é só um exemplo, pois há outras formas de isolamento às quais estamos submetidos hoje em dia.
    Em contrapartida, não conseguimos suportar essa solidão toda. E aí criamos diversas maneiras de furarmos essa bolha sem termos de sair dela. Vem então a internet, como um dos mais importantes "furos". Criamos vidas virtuais, amizades virtuais, relacionamentos virtuais, mas que podem ser desligados ou bloqueados com um simples clique quando vemos que começamos a nos envolver demais. Nos conectamos ao mundo para não nos sentirmos sós, mas somos incapazes de nos "conectar " aos nosso vizinhos na maioria das vezes. Você sabe o nome do seu vizinho? Sabe o que ele faz? Sabe se ele gosta de ver comédias ou filmes de terror?
    Mas não é somente no mundo virtual que podemos verificar isso. O ato de "ficar" é outra dessas fugas. As pessoas tem o medo de se envolver, mas persistem no medo de ficar sós. Então mergulham em ambientes lotados de gente, mas acabam, que me permita Camões, Ser um "solitário a andar por entre a gente". Ficam com pessoas que possivelmente não verão nunca mais e a quem não terão de dar satisfação ou confiança que seja.E no fim das contas permanecem solitárias, pois, por mais que busquem se sentir ligados aos outros através de beijos e outras coisas, continuam sozinhos em sua bolha de insensibilidade.
    Boa noite a todos, até outro dia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crime e Crise de Valores

    Antes que se diga que a juventude de hoje está cada vez mais ligada ao crime, um fato a comentar: Jovens envolvidos com crimes não são notícia recente, obrigado. E também não é exatamente sobre isso que se trata a postagem de hoje. A questão de hoje saiu das manchetes dos últimos dois anos envolvendo jovens. Melhor dizendo, não os jovens marginalizados e sem oportunidades, mas aqueles que tiveram todas as oportunidades na vida e ainda assim acabam  se envolvendo com o crime. O assunto em questão é o fenômeno da Classe Média transviada, para usar um termo com alguma história.
    Novamente antes de começar a tratar do tema, gostaria de expor um ponto interessante. O que acontece quando um jovem pobre, da favela, que não teve oportunidades é preso ou descoberto por um crime? Os jornais noticiam a violência crescente, e associam o crime a isso, isso quando não chamam o referido jovem de "bandido". E quando o jovem em questão não é o marginalizado? Sim, eles noticiam o crime, mas logo em seguida uma "nuvem" de especialistas aparecem apontando a cultura atual como culpada, ou afirmando que o mesmo sofria de problemas mentais ou qualquer outra desculpa em tom científico para desviar a questão. Interessante, não?
    Voltando a esse último exemplo, o que levou esse jovem, que tinha tantas oportunidades a se envolver com o crime? Primeira resposta possível: A "sensualidade" do crime.
    Bem ou mal, o crime é o vilão da nossa sociedade e desde muito tempo há um forte apelo na posição de vilão. Quantas pessoas não se afeiçoaram e torceram pelos vilões dos filmes, novelas e etc que assistiam? Muitas. Por há algo de místico no que é errado, algo sedutor. O vilão é aquele que detém o poder. Os homens querem esse poder e uma arma de fogo acaba sendo praticamente um símbolo fálico, uma representação de sua masculinidade. E as mulheres? Elas se sentem seduzidas por esse poder... Atraídas por um tipo de desejo pelo proibido. Por quê? Por que o proibido é instigante e, como diria Walter Bagehot, "um dos maiores prazeres da vida consiste em fazer o que os outros lhe dizem que você não pode".
    Então apresento agora um segundo motivo possível: Um crise de valores. Como assim? Geralmente, deixando a parte a questão da sedução do crime, quando um jovem mais abastado comete um crime, o faz por possuir os valores errados. Como os jovens que atearam fogo ao Índio Galdino e se justificaram afirmando que acharam que se tratava de um mendigo. Um minuto? Então, para eles, atear fogo em mendigos é uma atitude plausível? Eis aí uma questão de valores errados.
     E essa questão de valores não é somente dos tempos recentes e tampouco exclusividade da sociedade brasileira. As gangues americanas dos anos 1890 eram formadas pro jovens que espancavam as namoradas e achavam que os estrangeiros e imigrantes mereciam ser desprezados, usando da violência para por em prática tais ideais. Todos eles de família muito bem instruídas e com recursos. O que havia de errado com eles? Todos tinham problemas psicológicos, como às vezes os noticiários noticiam crimes com jovens de classe média e alta? Estranho um grupo tão grande de jovens estarem com problemas psicológicos, não acha? Na verde o problema eram os valores errados que eles tinham apreendido.
    E chegamos enfim a uma questão realmente importante no tema de hoje: Que valores nós, jovens, estamos aprendendo? Individualismo, consumismo, desestruturação dos laços familiares, falta de diálogo, uso da violência e vários outros que podem ser apontados como responsáveis por essa criminalidade. Mas não é somente a juventude que está sendo impregnada com esses valores, mas também adultos e, o mais terrível, as crianças de hoje. A sociedade está tomando um rumo auto-destrutivo e, correndo o risco de receber a alcunha de socialista extremista, a culpa disso é do capitalismo. Por quê?
    Os bens são cada vez mais descartáveis hoje em dia e aprendemos que as coisas são extremamente descartáveis. Somos bombardeados com propagandas e incentivados a consumir mais e mais e mais. As relações familiares e o respeito aos mais velhos e mais sábios não têm o mesmo valor que possuíam há algumas décadas. Estamos vidrados em computadores vivendo mundos virtuais e vidas virtuais, frias e impessoais. E antes que achem que eu estou aqui fazendo uma crítica à juventude a que me propus entender, estão errados. Quando digo que "nós" estamos sendo impregnados com tudo isso estou me referindo ao "nós seres humanos", a sociedade como um todo.
    Sem mais gostaria apenas que parassem para pensar nisso. Será que devemos continuar que esses valores errados sejam difundidos? Uma boa quinta-feira a todos e até breve.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Funk é Música?

    Quem me conhece sabe que eu costumava ser daquele movimento "Funk não é música" e sempre carregava quinhentos argumentos para convencer alguém de que eu estava certo. Mas de uns tempos para cá tenho revisto essa questão. Antes de tudo, eu estou aqui falando do funk carioca e não do funk soul do James Brown e outros da black music americana. Embora elas tenham uma relação importante, não são a mesma coisa.
    Vamos então ao ponto principal da questão: Funk é música? Antes de tudo, o que é música? Música, segundo o dicionário Aurélio, é a Arte de combinar sons, e segundo nossa franca Wikipédia, música é a arte de combinar sons e silêncio, sem a necessidade de uma pré-organização do tempo. Seguindo essa definição, Funk pode ser considerado música. Vamos então os argumentos contrários a essa afirmação:
  • Funk não tem melodia: Melodia é a organização coerente de sons e silêncio e que serve como voz principal para a música. Vejamos: há funks que possuem melodia, mas a melodia não é um fator necessário às músicas. Existem outros tipos de música sem melodia, como as músicas folclóricas e algumas músicas tribais. E há, inclusive, os funk melody que apresentam melodia.
  • Funk não tem harmonia: Harmonia é a relação entre tons diferentes numa sequência de sons. Quem afirma que funk não tem harmonia, diz que há a manutenção do tom pois o funk é mais falado que cantado. Outros ritmos musicais também tem essa caracterísitca, como o rap, mas há sim nesses ritmos, como no funk, a harmonia. Por exemplo, quando dois funkeiros cantam juntos os tons diferentes de suas vozes ao serem colocados juntos geram harmonia.
  • Funk não tem instrumentos: Música Eletrônica não tem instrumentos... Por isso ela deixa de ser música?
  • Letras ruins e sem conteúdo: Aqui vem um ponto interessante de se observar.
    Para poder mostrar minha opinião sobre esse último tópico, vou ter de apresentar um pouco d ahistória do funk carioca.Quando surgiu no Brasil, o funk sofreu grandes influências de ritmos americanos como Miami Bass e Latin Freestyle. As letras tratavam do cotidiano e da violência das favelas, e, como vários outros gêneros mais populares, como samba, rap, hip hop e etc, era a forma de a massa menos favorecida expressar sua opinião sobre o mundo em que vivia. Era a voz do pobre, favelado e marginalizado ante a sociedade carioca.
    Desde essa época o funk sofreu preconceito por parte de outras camadas, por ser um ritmo marginalizado. A situação só piorou com os "bailes de corredor" em que grupos rivais participavam de bailes, ficando cada um de seu lado e deixando um corredor entre ambos. Geralmente esses bailes acabavam em brigas. Com todo esse merchandising negativo, os funkeiros passam a produzir funks mais consicentizados e que pediam paz e divulgavam temas mais amenos, como o amor. Nessa época surgem Claudinho e Buchecha e Latino. É nessa época que o funk começa a tocar em rádios que não as das comunidades. O funk começa a descer o morro.
    Coincidentemente com o avanço do funk sobre as rádios, as letras começam a tratar de temas cada vez mais "sujos". O por quê? A imagem de funk como a música do marginal, do favelado e do criminoso ainda persistia na mente das classes mais altas. As rádios eram um espaço dominado por essas classes que queriam ouvir as músicas dos marginais em suas rádios. Entretanto, as letras politizadas ou que deflagravam a realidade da favela não lhes interessava. Há então um estímulo aos funks com alusões ao crime e ao sexo, o que as classes média e alta queriam ouvir. (A propósito, essa sedução da marginalidade sobre as classes mais altas vai ser tema de uma próxima postagem)
   A erotização e desvalorização da mulher, temas recorrentes nos funks dos anos 2000 são outro ponto usado contra o funk. Mas esse tipo de tema é também recorrente no forró e no axé. Outra crítica feita é que os bailes são patrocinados pelos traficantes. Nada mais comum? São os traficantes que dominam grande parte das favelas. Imperadores patrocinavam as artes, sob o título de mecenas. Hitler foi um grande mecenas, mas poucos músicos por ele patrocinados são questionados da forma como o funk é.
    Em suma, o apelo junto às classes mais altas desestruturou o funk como era ("A voz do Pobre") e o tornou  o tipo de música que hoje é. Da mesma forma, o samba que era uma expressão das classes marginalizadas foi esvaziada de sentido para se tornar um espetáculo para os ricos e poderosos. Para encerrar o post de hoje, uma letra de um funk de sua época áurea e alguns links interessantes:

Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
[Fé em Deus, DJ]
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz,
feliz, onde eu nasci, han.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre
tem seu lugar.
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer,
Com tanta violência eu sinto medo de viver.
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado,
A tristeza e alegria que caminham lado a lado.
Eu faço uma oração para uma santa protetora,
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora.
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,
O pobre é humilhado, esculachado na favela.
Já não aguento mais essa onda de violência,
Só peço a autoridade um pouco mais de competência.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz,
feliz, onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre
tem seu lugar.
Diversão hoje em dia, não podemos nem pensar.
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.
Fica lá na praça que era tudo tão normal,
Agora virou moda a violência no local.
Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,
Estão perdendo hoje o seu direito de viver.
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,
Só vejo paisagem muito linda e muito bela.
Quem vai pro exterior da favela sente saudade,
O gringo vem aqui e não conhece a realidade.
Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco,
E o pobre na favela, vive passando sufoco.
Trocaram a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu.
Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz,
onde eu nasci, han.
E poder me orgulhar, é,
O pobre tem o seu lugar.
Diversão hoje em dia, nem pensar.
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.
Fica lá na praça que era tudo tão normal,
Agora virou moda a violência no local.
Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,
Estão perdendo hoje o seu direito de viver.
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,
Só vejo paisagem muito linda e muito bela.
Quem vai pro exterior da favela sente saudade,
O gringo vem aqui e não conhece a realidade.
Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco,
E o pobre na favela, passando sufoco.
Trocada a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, só precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é.


domingo, 15 de agosto de 2010

Um ode ao Internetês

    Com certeza você já deve ter visto, de uns tempos para cá, várias reportagens, notícias, publicações e etc. falando do "mal" do internetês ou de como essa linguagem comum da internet prejudica o falar dos adolescentes. Muitos gramáticos e estudiosos da língua de uma ala mais puritsta vêm tentando eliminar frases do tipo "E aew blz?" ou "Vc tah afim de tc?". A afirmação deles é de que esse tipo de uso é viciante e poderia contaminar o bom português e atrapalhar o aprendizado na escola.
    Mas há algo de errado no reino da Dinamarca.
    Antes de tudo, deixe-me fazer aqui um parênteses um tanto nerd para explicar um termo linguístico a vocês, caros interneteiros. Registro é um termo usado na linguística para designar a variedade da língua definida de acordo com seu uso em situações sociais. Não entendeu? Digamos que você vá à praia. Você vai usar uma roupa de banho, certo? Agora, se você vai a uma entrevista de emprego, você nunca usaria roupa de banho, mas roupas mais formais. É a mesma coisa com a língua que falamos. Se estamos em uma conversa com amigos, usamos um tipo de língua diferente do que usamos ao nos dirigir a alguém importante ou ao apresentar uma palestra para um público mais exigente.
    Agora, sabendo do que se trata registro, vocês com certeza concordaram comigo que o internetês é um registro do português. Seu lugar social é a internet e seus usuários os interneteiros. Falar que o internetês faz mal à saúde do ensino da língua é a mesma coisa que falar que um registro é nocivo ao português. E eis aí a questão. Por acaso o jeito que você fala com seus amigos destrói o jeito como você fala em situações mais formais? Por acaso o caipirês do Chico Bento atrapalha o leito das revistas do Maurício de Souza a escrever direito? Creio eu que não.
    E agora chegamos ao grande ponto dessa questão, e que tem muito a ver com a temática desse blog: Se o internetês é apenas mais um registro linguístico do português, por que toda essa crítica ao internetês? Os puristas da geração guaraná de rolha afirmam que os jovens podem fazer mal uso desse registro e usá-lo em ambientes inadequados. Mas isso é uma grande besteira. Todo falante de uma língua reconhece um registro e seu uso adequado. É um fato espontâneo, que já está programado em nosso cérebros.
     E então os puristas vêm argumentar: Então por que há tantos adolescentes usando o internetês em trabalhos escolares? Primeira coisa: Nem há tantos assim, há apenas uma pequena quantidade de adolescentes que realmente fazem isso. Outra coisa: Se eles não fazem o uso do registro certo no uso certo, é por que não apreenderam o registro. Um exemplo na contramão: Até ano passado eu quase não usava o msn. Portanto eu escrevia frases inteiras, sem as abreviações do internetês. Resultado? Eu me enrolava com tantas janelas abertas, demorava muito tempo para escrever o que queria e quando estava em algum chat sempre fazia os comentários quando o assunto já tinha morrido. Mas hoje, depois de tanto contato com o internetês eu já o uso normalmente quando estou no msn. E se vocês repararem, eu não usei o internetês nesse texto, exceto na hora de mostrar os exemplos. Por quê? Por que, eu acho, que o registro aqui exigido é outro.
    Então por que há jovens usando o internetês na escola? Porque a educação brasileira é falha. Exatamente por isso. Há uma quantidade de jovens que não tiveram acesso suficiente ao tipo de registro escolar, ou um acesso inadequado, e por isso não aprenderam a usá-lo. E os puristas da educação, em vez de tomarem a culpa para si, a jogam para a internet.
    Antes de terminar essa postagem de hoje, eu só gostaria de deixar aqui uma frase de um linguista chamado Sírio Possenti:
"Uma coisa é a grafia; outra, a língua. Não há linguagem nova, só técnicas de abreviação no internetês. As soluções gráficas são até interessantes, pois a grafia cortada é a vogal. A palavra "cabeça", por exemplo, vira "kbça", e não "aea". A primeira forma contém os fonemas indispensáveis ao entendimento."

    A vcs, galera, um bom fds. Bjos e ateh a vista.